Na década de 1920, o futebol passava pela transição do amadorismo para o profissionalismo em praticamente todos os países que praticavam esta modalidade esportiva. Se na Inglaterra, esse processo se iniciou em 1885, nos demais países da Europa, os primeiros a profissionalizarem o futebol foram a Áustria e Hungria, em 1924, e no ano seguinte, a Tchecoslováquia (atualmente desdobrado em dois países: República Tcheca e Eslováquia). Na América do Sul, o primeiro país a se profissionalizar foi a Argentina, em 1931 (o Brasil, a partir de 1933).
A discussão sobre a regulamentação profissional passava obrigatoriamente nas pautas das duas principais organizações mundiais: o COI – Comitê Olímpico Internacional – e a FIFA, tanto para as regras como para as competições.
A discussão sobre a regulamentação profissional passava obrigatoriamente nas pautas das duas principais organizações mundiais: o COI – Comitê Olímpico Internacional – e a FIFA, tanto para as regras como para as competições.
Com a também conturbada decisão* de realizar o primeiro Mundial de Futebol no Uruguai, em 1929, havia a necessidade de definição de normas e regras para a primeira competição. Não houve tempo.
As preocupações para outros assuntos (transporte, inscrições das seleções, acomodações, construção do Estádio Centenário) “homologaram” o uso das mesmas regras utilizadas inclusive pelo COI nas Olimpíadas, e que foram criadas em 1891.Assim, foi escolhida a bola que era regularmente usada nos Jogos Olímpicos, e com a qual o Uruguai foi bicampeão olímpico.
* A decisão para o Uruguai como sede do Primeiro Mundial teve como consequência o boicote da maioria dos países europeus, liderados pela Itália.
Mundial de 1930: Tiento T-Shape
A matéria-prima usada na primeira bola oficial do Mundial de Futebol era de origem animal, couro curtido (o famoso capotão), e a câmara de ar era uma bexiga de boi – há controvérsias de que na década de 1920 já se utilizava a borracha indiana.
O formato, esférico, e as dimensões se mantiveram aquelas que foram determinados ainda em 1866, por meio de um encontro entre a Football Association e a Sheffield Association: utilizar como “padrão” a bola produzida pela Lillywhite, de modelo n.º 5. Esta, com diâmetro de 68cm a 70 cm, e massa entre 410g e 450g.
Para o Mundial de 1930, a “Tiento” modelo T-Shape foi escolhida por ser exatamente fiel aos padrões acordados. O nome deriva da forma dos painéis (gomos) em T, em um total de 12 peças. Esta bola, rígida, tinha uma costura com “renda” (cordões) para deixá-la mais flexível (como mostra a figura 1).
Evidenciam-se a cor, castanho escuro, e os segmentos retangulares, assim como a costura externa, que exigia coragem dos atletas para o cabeceio. A solução escolhida na época, era o uso de boina, e para alguns, uma toca com recheio de jornal ou papelão.
A bola da discórdia
Um dos fatos mais curiosos dos Mundiais ocorreu exatamente no jogo final, entre as seleções da Argentina e do Uruguai. A comissão técnica Argentina alegava que, como não haviam regras claras sobre a bola, eles seriam prejudicados, pois usavam outro modelo, com numeração entre 4 e 4,5 (massa de 380g a 420g).
Para evitar maiores conflitos, o árbitro belga Jan Langenus decidiu que na primeira etapa seria usada a “bola argentina”, e na segunda, a “Tiento T-Shape”. Resultado: 4 X 2 para os uruguaios (2 x 1 para a “T-Shape”).
Curiosidade final: para alguns historiadores, a “Tiento T-Shape” era produzida na Argentina…
Mundial de 1934: Federale 102
O modelo utilizado no Segundo Mundial da Itália, em 1934, é muito similar ao modelo de 1930. Fabricada pela E.G.A.S Roma, a “Federale 102” era composta também por 12 painéis de couro curtido, marrom-escuros, com a mesma renda para flexibilizar a “palla” (bola, em italiano). A única diferença, é que os painéis eram recortados em gomos pentagonais, como um “ziguezague”, para melhor acabamento das costuras. Atualmente, é um dos modelos mais raros, para museus e coleções.
Mundial de 1938: Allen Officiel
Esta bola ficou conhecida como Allen, a empresa que forneceu este material para o Mundial da França em 1938. Normalmente, estes tipos de bolas tinham 12 painéis de couro curtido, mas esse modelo era especialmente composto por 13, para reduzir a abertura lateral da “renda”, composta por três peças, e assim tivesse ainda maior flexibilidade e menor área para os cordões. A circunferência restante formada por grupos de duas tiras.
Outra inovação foi a introdução de câmara de borracha indiana na bola e válvula de injeção de ar (projeto dos argentinos Antonio Tossolini, Juan Valbonesi e Luis Polo). Essas inovações formaram a base das bolas que seriam utilizadas nos Mundiais da década de 1950.
Fontes de pesquisa:
BALL, Peter. Soccer: the world game. Londres: Hamlyn, 1989
POLI, Gustavo; CARMONA, Lédio. Almanaque do Futebol. Rio de Janeiro: Editora Casa da Palavra, 2006.
TODAS as Copas. Lance! – O diário dos Esportes, São Paulo, pp. 8-34, 1998.
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