Por incrível que pareça, a camisa que o Brasil usaria no mundial do Uruguai, em 1930 foi um dos motivos do “racha” que determinaria o elenco e o desempenho da seleção nas primeiras Copas do Mundo.
Nos meados da década de 1930, duas eram as instituições que regiam o futebol brasileiro. A primeira, a Confederação Brasileira de Desportos (CBD), sediada no Rio de Janeiro, que era a Capital do Brasil na época do Mundial, e era o grande centro financeiro, social, cultural e artístico do país.
A segunda, a Associação Paulista de Esportes Atléticos (Apea), em São Paulo, “capital do café”, como tal pela conjuntura econômica baseada predominantemente na produção dessa semente. Por este motivo, São Paulo crescia rapidamente e assumia o comando político do país.
Se no campo político e econômico a rivalidade se desenvolvia, nas quatro linhas a disputa só aumentava.
A camisa apresentada pela CBD para o Mundial de 1930 estampava o mesmo escudo criado em 1917, desconsiderando a existência da Apea. Também, fora definido o padrão do uniforme, com a camisa totalmente branca*, com gola “pólo” também branca, e calções azuis-marinho conforme a figura abaixo (a Apea tinha uma logo com predominância do vermelho).
A segunda, a Associação Paulista de Esportes Atléticos (Apea), em São Paulo, “capital do café”, como tal pela conjuntura econômica baseada predominantemente na produção dessa semente. Por este motivo, São Paulo crescia rapidamente e assumia o comando político do país.
Se no campo político e econômico a rivalidade se desenvolvia, nas quatro linhas a disputa só aumentava.
A camisa apresentada pela CBD para o Mundial de 1930 estampava o mesmo escudo criado em 1917, desconsiderando a existência da Apea. Também, fora definido o padrão do uniforme, com a camisa totalmente branca*, com gola “pólo” também branca, e calções azuis-marinho conforme a figura abaixo (a Apea tinha uma logo com predominância do vermelho).
Figura 1: Seleção no Mundial de 1930.
Camisas mangas longas, brancas, com golas em estilo "pólo" e escudo da CBD bordado no peito, à esquerda.
Camisas mangas longas, brancas, com golas em estilo "pólo" e escudo da CBD bordado no peito, à esquerda.
Para piorar, a CBD não convidou membros da Apea a participarem da comissão técnica que iria ao Uruguai.
Em contrapartida, a Apea não permitiu que clubes de São Paulo liberassem jogadores à seleção. Exceção ao atacante Araken Patuska, que conseguiu fazer parte da seleção por indisposições com o Santos, clube ao qual estava vinculado.
Com uma equipe formada quase que somente com jogadores cariocas, a seleção viajou por 15 dias para Montevidéu.
Com essa viagem desgastante, e limitações na qualificação do elenco, o Brasil entrou em campo com mangas longas, em função do rigoroso inverno uruguaio (nas partidas a média da temperatura era de 0ºC). A malha das camisas era formada por fios de algodão do tipo 20.1 (mais grossos, e portanto, pesados) e possivelmente as camisas foram adquiridas ena capital uruguaia.
O Brasil assim foi derrotado na estréia pela Iugoslávia por 2 a 1 (gol brasileiro convertido pelo Preguinho, jogador do Fluminense) e goleou a Bolívia por 4 a 0, com dois gols de Moderato e outros dois de Preguinho.
Importante destacar que no primeiro Mundial, assim como nos dois subsequentes, os jogadores não recebiam numeração nas camisas, o que dificultava o trabalho dos narradores - e até dos técnicos, para a aplicação das "jogadas".
Time base para a Copa de 1930: Joel, no gol; Brilhante e Itália, na zaga; Hermógenes, Fausto e Fernando no meio-de-campo; Poly, Nilo, Araken, Preguinho e Teófilo, no ataque.
* OBS.: nos poucos registros fotográficos da Camisa da Seleção na Copa de 1930, nota-se que o tecido é uniformemente branco (sendo assim considerados para a pesquisa), muito similar à camisa da Seleção de 1917. Segundo o site da CBF, as golas eram azuis, como o uniforme do Campeonato Sul-americano de 1919.
Mundial de 1934
Para o Mundial de 1934, na Itália, não foram mantidos apenas a camisa e o padrão de jogo, mas os mesmos problemas com elenco, e conflitos entre paulistas e cariocas.
As camisas continuavam com o mesmo padrão de confecção. Desta vez, entretanto, forma levadas do Brasil (possivelmente confeccionadas pela Malharia Lundgren (que originou as Casas Pernambucanas, e era a mesma que coneccionava os uniformes da Marinha do Brasil, entre outros).
Em outra viagem de 15 dias, muito atletas engordaram, e o único treino antes da partida contra a Espanha não foi suficiente para evitar o pior: derrota por 3 a 1 e eliminação na primeira fase do torneio.
Figura 2: Seleção no Mundial de 1934.
Mesmo modelo da camisa usada no Mundial de 1930, com mangas curtas.
Mesmo modelo da camisa usada no Mundial de 1930, com mangas curtas.
Time base para a Copa de 1934: Pedrosa, no gol; Sílvio Hoffman e Luís Luz, na zaga; Tinoco, Martin e Canali, no meio-de-campo; Luisinho, Valdemar, Armandinho, Leônidas e Patesko, no ataque.
Mundial de 1938
Controvérsias históricas marcam a Camisa usada pela Seleção de 1938.
Na partida de estréia, contra a Polônia (vitória na prorrogação de 6x5) a Seleção, no sorteio dos uniformes, na véspera da partida, perdeu e teve que jogar com outro uniforme, pois a Polônia também usava uma camisa toda branca. Como a delegação não possuía uma segundo uniforme, membros da comissão técnica compraram uma camisa azul escuro, em Strassbourg com gola pólo, para combinar com os calções.
Figura 3: Seleção no Mundial de 1938 - jogo Brasil 6 x 5 Polônia.
Nas outras quatro partidas, contra a Tchecoslováquia (duas partidas, pois com o empate no primeiro jogo, o desempate era remarcado dois dias após), derrota de 2x1 para a Itália e vitória de 4x2 na Suécia, camisa com gola em “V”, azul. Estas, fornecidas pela Superball - Cia. Brasileira de Equipamentos Esportivos. Ao todo, foram seis partidas, e duas camisas.
Figura 4: Seleção no Mundial de 1938 - jogo Brasil 1 x 2 Itália.
Camisa branca com gola em "V" e calção azul-marinho.
Camisa branca com gola em "V" e calção azul-marinho.
Time base para a Copa de 1938: Batatais e Valter Goulart para o gol; Domingos da Guia, Machado, Jaú e Nariz para a zaga; Zezé Procópio, Martim Silveira, Afonsinho, Brito, Brandão e Argemiro no meio-de-campo; Lopes, Romeu Peliciari, Leônidas da Silva, Peracio, Hércules, Roberto, Luisinho, Niginho, Tim e Patesko no ataque.
Fontes de pesquisa:
50 anos de emoção e gol: a história da copa do mundo. Revista Oficial da CBF, Rio de Janeiro, pp. 7-8, Bloch Editores, 1980.
Copa do Mundo de Dois em Dois. Arquibancada Blog Clube. Disponível em: http://www.arquibnacadablogclube.com.br
GLANVILLE, Brian. O Brasil na Copa do Mundo. Porto Alegre: Editora Lux, 1973.
TODAS as Copas. Lance! – O diário dos Esportes, São Paulo, pp. 8-34, 1998.
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