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quinta-feira, 20 de maio de 2010

A Camisa da Seleção no Mundial de 1970

Antecedentes e Preparativos


Após a pífia participação da Seleção no Mundial de 1966 (Inglaterra), mais mudanças ocorreriam nos bastidores da CBD.

Foi criada uma Comissão Selecionadora Nacional (CONESA) em 1967 com o objetivo maior de formar uma equipe competitiva e renovada. Aymoré Moreira retornou ao comando técnico, e foram agendados amistosos, no Brasil, países vizinhos e na Europa para que fosse verificada a eficácia da “nova seleção”.


Em 1967, três empates com o Uruguay, e uma vitória magra de 1 a zero contra o Chile (gol do atacante Roberto Miranda do Botafogo).


Em 1968, seria bem diferente. Duas vitórias consecutivas contra o Uruguai, sem gols sofridos, sendo uma goleada de 4 a zero. Na excursão à Europa, vitórias sobre a Alemanha Ocidental (2x1), Polônia (6x3), Iugoslávia e Portugal (ambas, 2x0) e apenas uma derrota, para a Tchecoslováquia (2x3). No México (que seria sede do próximo Mundial) duas vitórias e uma derrota, e no retorno à América do Sul, duas vitórias sobre o Peru, duas vitórias sobre a Argentina (sendo uma goleada de 4x1) e uma vitória e derrota contra o Paraguai. Em todas essas partidas, a Seleção usou o mesmo uniforme do Mundial de 1966.

Em celebração aos 10 anos da conquista na Suécia, um amistoso contra a Seleção da FIFA, no dia 6 de novembro de 1968, no Maracanã. A vitória de 2 a 1 para o Brasil não seria nada mais que um resultado festivo, se não fosse por um detalhe pitoresco.


Giuseppe Carlo Bulgarelli, proprietário da Malharia Athleta, juntamente com Plínio Figueiredo Cunha, sugeriram a criação de um novo modelo de camisa para a Seleção. Desenharam uma camisa amarela com gola redonda e punhos verdes, como seria adotada no Mundial de 1970. Mas, também tiveram a ideia de bordar as duas estrelas de bicampeão do mundo acima do escudo da CBD, e que seriam exibidas pela primeira vez durante nesse amistoso contra a Seleção da FIFA. Destacam-se, nas camisas, as estrelas, amarelas, inseridas em círculos azuis (em referência à camisa usada na final daquela competição). Foram usadas apenas no primeiro tempo, pois os atletas reclamaram que as camisas eram pesadas demais (inadequadas ao jogo, realizado em novembro, que fazia com que as camisas parecessem quentes demais).


Figura 1: Amistoso contra a Seleção da FIFA. Camisa com 2 estrelas.

Nova mudança ocorreria em 1969. O cronista gaúcho João Saldanha foi convidado por João Havelange para assumir a Seleção. Idéias e conceitos revolucionários marcaram a passagem de Saldanha na Seleção.


Com uma campanha exemplar (23 gols marcados e apenas seis
sofridos), foram os desgastes e interferências externas que provocaram a saída de Saldanha do comando técnico. Saldanha criticou Pelé publicamente que, além de amargar a reserva, foi chamado de “míope”. De fato, Saldanha tinha sido pressionado a convocar, contra a sua vontade, o atacante Dario do Atlético-MG (o Dadá Maravilha), que era o preferido do Presidente Emílio Garrastazu Médici (no auge da Ditadura Militar).

O técnico João Saldanha, inclusive, proibiu o uso das estrelas na camisa da Seleção às vésperas do Mundial. Assim, a Athleta desenvolveu aquele que ficaria eternizado como a camisa mais bela da Seleção (e o uniforme mais belo do mundo, segundo o jornal eletrônico “Times Online”, em matéria publicada em 2007).

Dino Sani (volante da Seleção em 1958) chegou a ser convidado, mas recusou. Zagallo aceitou o convite, e com resultados magros, causou desconfiança e descrédito.


México 1970: campanha impecável e terceiro Título Mundial


Com a camisa amarela idealizada por Bulgarelli e Cunha, com algumas alterações, foram preparados os uniformes que seriam utilizados no Mundial do México.


Ainda sob a desconfiança de alguns, mas grande apoio da maioria da população brasileira, a Seleção entrou em campo no dia 3 de junho para o primeiro jogo, segundo do Grupo 3. O adversário, a Tchecoslováquia saiu na frente com Petráš, aos 12 minutos de jogo. Mas a seleção virou e bateu a Tchecoslováquia por 4 a 1 — gols de Rivelino, Pelé, e dois de Jairzinho. Mas o fato mais marcante deste jogo, sem dúvidas, foi a tentativa de Pelé para um gol do meio de campo surpreendendo o goleiro tcheco Ivo Viktor e todo o mundo.


No dia 7 de junho, um dos grandes jogos do Mundial: a partida frente à Campeã de 1966, a Inglaterra. Vitória por 1 a 0, gol de Jairzinho. Mas o grande destaque o goleiro Gordon Banks, com exuberante atuação, e aquela que é considerada a maior defesa do Século XX, com o cruzamento de Jairzinho e forte cabeçada de Pelé. A bola tinha destino certo, o canto direito de Banks, mas em um lance espetacular, tirou a bola na linha do gol.

Três dias depois, a Romênia seria o adversário. O Brasil abre dois gols seguidos, com Pelé e Jairzinho. A Romênia diminuiu, mas Pelé decretou o placar mesmo com um gol de Dembrowski nos últimos minutos. Outro lance histórico ocorreu com uma falha do goleiro Radulescu. Com saída errada a bola parou nos pés de Pelé, que emendou de primeira, mas o goleiro, desta vez, estava atento.

Na fase de quartas-de-final, o Brasil enfrentou o Peru, treinado por Valdir Pereira, o Didi (Bicampeão Mundial), por 4 a 2. Nesta partida, Tostão foi o destaque do jogo, com dois gols marcados. Jairzinho e Rivelino completaram o placar.
Na partida da fase semifinal, no dia 17 de junho, o Brasil enfrentou o Uruguai, em um jogo violento, com marcação cerrada dos uruguaios, que impediam as jogadas de ataque do Brasil. O Uruguai saiu na frente, com Cubilla aos 19 minutos. Mas foi com uma mudança tática que o Brasil virou o placar. Zagallo avançou o volante Clodoaldo, que empatou o jogo no último minutos do primeiro tempo. Na segunda etapa, Jair e Rivelino decretaram o placar final. Outro momento marcante de Pelé ocorreu nesta partida. Avançando até a área do gol uruguaio, ele deu um drible de corpo no goleiro Mazurkiewicz, sem tocar na bola e lhe aplicou o chamado "drible da vaca", e chutou a bola que por centímetros não entrou no gol adversário.

Na partida final, no dia 21 de junho, brasileiros e italianos decidiriam quem ficaria definitivamente com a Jules Rimet. O Estádio Azteca, lotado, seria o palco de um dos mais memoráveis jogos de futebol da História. Pelé abriu o placar aos 18 minutos, mas a Itália empatou aos 37 minutos. No segundo tempo, a Itália e o mundo veriam uma exibição sensacional, incomparável da Seleção.


Figura 2: Delegação brasileira Campeã em 1970.

Importante destacar que Pelé sabia que este seria seu último e decisivo Mundial (mesmo que na década de 1970 ele ainda jogasse pelo Santos e Cosmos, com vitalidade incomparável). E este Mundial foi o primeiro a ser transmitido em cores para que o mundo pudesse presenciar a mais exuberante atuação do melhor jogador de todos os tempos.



As Camisas do Mundial de 1970

Como mencionado anteriormente, um uniforme foi especialmente desenvolvido pela Malharia Athleta para o Mundial do México, com golas redondas, em modelo também chamado de “gola careca”.


A camisa era confeccionada em algodão, fio 30.1 penteado, o que deixava a camisa mais leve e confortável (diferentemente das camisas anteriores, mais pesadas).

O escudo também teve suas dimensões reduzidas, sendo adotado este modelo de escudo para toda a década de 1970.


Entretanto, para a competição, a Seleção vestiu duas marcas, para o mesmo modelo de camisa: uma das Malhas Athleta – distinta pela numeração retilínea, ou “quadrada” – e outra da Umbro (modelo “Aztec” Jersey, confeccionada na Inglaterra) – distinta pela numeração curvilínea, ou “arredondada”.




Figura 3: Camisa da Seleção - Marca Umbro - Mundial 1970.

Figura 4: Camisa da Seleção - Marca Athleta - Mundial 1970.

Pelos registros em vídeo disponíveis, pode-se perceber a distinção das camisas pelo estilo dos números, e em todos os jogos, a Seleção usou a camisa da Umbro, no primeiro tempo, e da Athleta, no segundo tempo.
Foram seis jogos e seis vitórias memoráveis com a “Amarelinha”.


Fontes de pesquisa:


50 anos de emoção e gol: a história da copa do mundo. Revista Oficial da CBF, Rio de Janeiro, pp. 7-8, Bloch Editores, 1980.
GLANVILLE, Brian. O Brasil na Copa do Mundo. Porto Alegre: Editora Lux, 1973. Lancenet. Saiba aonde foram parar outras relíquias do futebol. Disponível em:

<http://www.lancenet.com.br/noticias/09-03-24/514215.stm?saiba-aonde-foram-parar-outras-reliquias-do-futebol>. Acesso em: 10.mai 2010.

TODAS as Copas. Lance! – O diário dos Esportes, São Paulo, pp. 8-34, 1998.


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